quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O serviço dos pobres acima de tudo

Não temos de avaliar os pobres por suas roupas e aspecto, nem pelos dotes de espírito que pareçam ter. Com frequência são ignorantes e curtos de inteligência. Mas muito pelo contrário, se considerardes os pobres à luz da fé, então percebereis que estão no lugar do Filho de Deus que escolheu ser pobre. De fato, em seu sofrimento, embora quase perdesse a aparência humana - loucura para os gentios, escândalo para os judeus - apresentou-se, no entanto, como evangelizador dos pobres: Enviou-me para evangelizar os pobres (Lc 4,18). Devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo e imitar aquilo que ele fez: ter cuidado pelos indigentes, consolá-los, auxiliá-los, dar-lhes valor.
Com efeito, Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a ele mesmo tudo quanto de bom ou de mau se fizesse ou dissesse aos pobres. Deus ama os pobres, também ama aqueles que os amam. Quando alguém tem um amigo, inclui na mesma estima aqueles que demonstraram amizade ou prestam obséquio ao amigo. Por isso esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus. Visitando-os, pois, esforcemo-nos por entender os pobres e os indigentes e, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer com o Apóstolo: Fiz-me tudo para todos (1Cor 9,22). POr este motivo, se é nossa intenção termos o coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele nossos corações e guardando-os repletos.
Deve-se preferir o serviço dos pobres a tudo o mais e prestá-lo sem demora. Se na hora da oração for necessário dar remédios ou auxílio a algum pobre, ide tranquilos, oferecendo esta ação a Deus como se estivésseis em oração. Não vos pertubeis com angústia ou medo de estar pecando por causa do abandono da oração em favor do serviço aos pobres. Deus não é desprezado, se por causa de Deus dele nos afastarmos, quer dizer, interrompermos a obra de Deus para realizá-la de outro modo.
Portanto, ao abandonardes a oração, a fim de socorrer a algum pobre, isto  mesmo vos lembrará que o serviço é prestado a Deus. Pois a caridade é maior do que quaisquer regras que, além do mais, devem todas tender a ela. E como a caridade é uam grande dama, faz-se necessário cumprir o que ordena. Por conseguinte, prestemos com renovado ardor nosso serviço aos pobres; de modo particular aos abandonados, indo mesmo à procura, pois nos foram dados como senhores e protetores.

Dos Escritos de São Vicente de Paulo, presbítero (século XVII)
São Vicente de Paulo fundou a Congregação da Missão (Lazaristas), destianda à formaçã do clero e
ao serviço aos pobres. Instituiu também a Congregação das Filhas da Caridade. Morreu em Paris, 27 de Setembro de 1660.

Extraído do blog "Tesouros da Igreja Católica", de Miguel Fornari, que contém textos escritos ao longo dos séculos por santos e mártires, que formam um verdadeiro tesouro da Igreja Católica.
Acompanho o blog, leio os posts diariamente e recomendo a todos os irmãos.
Obrigado, Miguel Fornari, por tão valiosa contribuição.
Disponível em http://tesourosdaigrejacatolica.blogspot.com/2011/09/o-servico-dos-pobres-acima-de-tudo.html

Balanço Geral (Pe Zezinho)

Imagine que sua vida seja tão interessante ou mais interessante que a minha. Quero crer que seus relacionamentos sejam até melhores do que os meus. Mas chego aos 68anos de idade e a mais de 45 anos lidando diretamente com as pessoas, todo tipo de pessoa.
Num balanço geral desses relacionamentos, conheci de tudo, aqui e no exterior. Deram-me chances e oportunidades, puxaram meu tapete, cederam o seu lugar, tomaram o meu lugar, ajudaram-me, roubaram de mim, elogiaram-me, defenderam-me, caluniaram-me, tentaram me destruir, tentaram me salvar, permaneceram fiéis, traíram, prometeram e cumpriram, prometeram e não cumpriram. Intencionalmente tentaram me ferir, tentaram me curar as feridas, oraram por mim, oraram contra mim, contaram verdades, inventaram inverdades, quiseram me ouvir, não quiseram me ouvir, gritaram aos meus ouvidos, falaram com serenidade, estenderam-me a mão, negaram-me a mão.
Conheci de tudo e, em todos os casos, Deus me deu a graça de entender que o outro era quem era. As pessoas não nos amam do jeito que gostamos, mas do jeito que elas sabem amar. As que sabem amar melhor do que nós nos enriquecem. As que amam menos do que nós, às vezes nos ferem, porque são quem são, e não adianta querer mudá-las por palavras firmes, fortes, violentas ou por decreto. Na maioria dos casos, quando fui ferido, fiquei quieto, deixei que os fatos tomassem a sua devida dimensão.
Não sou Deus, não quero brincar de Deus e levo muito a sério Mateus 7,1-2. Não posso julgar quem me julga, ferir quem me fere, puxar o tapete de quem puxa o meu, nem devolver com violência as agressões que recebo. Posso apenas avisar que vou reagir e que não me deixarei encurralar. Mas devo, como cristão, responder sempre com menor grau de violência do que com aquele grau de que sou vítima.

O meu lugar – Enfim, responder sim, mas não com a mesma violência, defender-me sim. Mas, se não for possível, oro e coloco a pessoa nas mãos de Deus. Já pus muitos que pretendiam me destruir nas mãos de Irmãs Carmelitas, e pedi que orassem por essas pessoas feridas, magoadas e com ódio. Em geral, deu tudo certo, porque o amor – e eu acredito firmemente nessa verdade – o amor liberta. Liberta a vítima e o algoz. Levo muito a sério a frase de Jesus: “Perdoai-os, eles não sabem o que fazem”. Espero que eu saiba.
Num balanço geral, diria que mais perdi do que venci. Em alguns momentos da minha jornada venci, em outros perdi. Feitos os cômputos, acho que sou um vencedor. Soube perder quando perdi, soube vencer quando venci. Continuo querendo não ser o primeiro, nem o maior, nem o melhor. Quero apenas o meu lugar. E, se alguém o quiser, eu o entrego de boa vontade, até porque este alguém não vai saber o que fazer co ele, já não é lugar dele. E eu também não saberia o que fazer com o lugar que não é meu.
Tenho orado a Deus para que me dê a graça de saber a minha dimensão e o meu lugar. Não há nada mais bonito nem mais feliz. Eu sou eu no meio de outros que também são eles mesmos.

José Fernandes de Oliveira, scj (Padre Zezinho) pertence à Congregação do Sagrado Coração de Jesus, é escritor, compositor, cantor e dedica-se à Pastoral da Comunicação.
Revista Família Cristã – Setembro de 2010

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Onde Há Deus, Há Futuro (Dom Murilo Krieger - Primaz do Brasil)

Onde há Deus, há futuro
Dom Murilo S.R. Krieger, Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

Dias atrás, antes de deixar Roma para a terceira visita que faria a seu país natal – visita que termina hoje –, o Papa Bento XVI falou ao povo alemão pela televisão. Disse-lhe que o sentido de sua visita estava sintetizado no lema que nortearia seus encontros: “Onde há Deus, há futuro”. Em outras palavras: é necessário que Deus volte ao horizonte da vida de todos, já que, embora tenhamos necessidade dele, muitos o ignoram. Mesmo os que não o ignoram, por vezes se perguntam: Será que Deus existe realmente? E se existe, se ocupa realmente de nós? Podemos atingi-lo?

Há os que dizem que só acreditariam em Deus se pudessem encontrá-lo, tocá-lo e tomá-lo nas mãos como se pode fazer com qualquer objeto. “Temos que desenvolver de novo a capacidade de percepção de Deus, capacidade que existe em nós. Podemos intuir algo da grandeza de Deus na grandeza do cosmos.” Sim, “na grande racionalidade do mundo podemos intuir o espírito criador do qual esse espírito provém; na beleza da criação podemos intuir alguma coisa da beleza, da grandeza e da bondade de Deus. Na Palavra das Sagradas Escrituras podemos ouvir palavras de vida eterna, que não vêm simplesmente de homens, mas do Senhor”, afirmou Bento XVI.

Há um outro tipo de experiência de Deus que poderemos fazer: no encontro com pessoas que foram transformadas por Ele. Pensemos, por exemplo, no apóstolo Paulo ou em Francisco de Assis, em Madre Teresa de Calcutá, em Irmã Dulce ou em Irmã Lindalva. Podemos pensar igualmente em pessoas simples, desconhecidas do povo em geral e ignoradas pelos meios de comunicação social. Quando as encontramos, sentimos que delas nasce uma força que nos emociona, uma bondade que toca nosso coração, uma alegria que nos contagia. Temos certeza de que nelas Deus está presente. “Por isso, nestes dias desejamos empenhar-nos para tornar a ver Deus, para fazer com que nós mesmos sejamos pessoas através das quais entre no mundo a luz de esperança - luz que vem de Deus e que nos ajuda a viver” (Bento XVI).

Poderíamos pensar que a questão do ateísmo não seja um problema nosso, brasileiro, ao menos a ponto de nos preocupar. Ledo engano. A Fundação Getúlio Vargas apresentou, semanas atrás, um mapa das religiões aqui no Brasil, destacando que cresceu entre nós o número de ateus: atualmente, são 6,7% da população. Não é uma cifra desprezível: tendo nosso pais 190 milhões de habitantes, o número de ateus deve girar, pois, em torno de treze milhões de pessoas.

Saramago, famoso escritor português, prêmio Nobel de Literatura, falecido há pouco mais de um ano, declarava-se ateu. Dada a sua fama, era frequentemente entrevistado sobre isso. Numa dessas entrevistas, observou que “ Bento XVI jamais viu Deus e nunca se sentou para tomar um café com ele”. Se tivesse me conhecido (e haveria razão para isso?...), o mesmo ele poderia ter dito de mim. Sou cristão desde o nascimento; trabalho na Igreja desde criança e também nunca vi Deus. No entanto, alegro-me em poder servi-lo. Não que ele precise de mim; eu é que me realizo colocando minha vida a serviço do Evangelho de Seu Filho.

Um Evangelho que nada tem em comum com aquele que o próprio Saramago escreveu, no começo da década de noventa. Identifico-me com a definição que o apóstolo e evangelista João apresentou de Deus, fruto de sua longa caminhada de fé: “Deus é amor”. Se Saramago ou qualquer pessoa me pedisse explicações sobre essa afirmação, me sentiria tentado a escrever um livro ou, então, a repetir o que Teresa de Calcutá disse a um repórter que lhe perguntou o que é rezar. Ela lhe disse: “É falar com Deus”. Quando o repórter lhe perguntou: “E o que Ele lhe diz, quando a senhora fala com Ele?” Ela lhe respondeu: “Ele não me fala; Ele me escuta. E se o senhor não for capaz de entender isso, nem eu serei capaz de lhe explicar”.

Também não saberei explicar quem é Deus. Sei, apenas, que não saberia viver sem Ele. Encontro-o na Igreja, na Bíblia, no próximo, na alegria e na dor. E, simplesmente, o amo. Sei que Ele me amou por primeiro. Como diria Santo Anselmo: “Eu creio para compreender”...

domingo, 5 de junho de 2011

Sobral Pinto

Nesta semana, li no jornal uma entrevista com um dos jornalistas chineses, correspondentes no Brasil à epoca do golpe de 64, que tiveram sua residência arrombada pelos militares golpistas, todo seu dinheiro roubado, foram presos, barbaramente torturados (qual tortura não é bárbara?) e condenados a 10 anos de prisão. Tendo cumprido aproximadamente  um ano de prisão, receberam a visita de um senhor de 75 anos, que tomara conhecimento da situação deles havia pouco tempo. As visitas do tal senhor repetiram-se duas vezes por semana, trazendo-lhes conforto fraterno, até quando este velho advogado conseguiu a libertação de todo o grupo. A maioria deles já faleceu. Este sobrevivente vive na China e carrega até hoje as marcas físicas da tortura de que foi vítima. Surpreendentemente, afirma que a maior sequela é a de nunca ter recebido um pedido formal de desculpas do governo brasileiro nem ter recebido de volta o dinheiro que lhe foi roubado. Ele entende que esta não é a nossa conduta, pois somos um povo digno, cordial e respeitoso.
Como brasileiro, envergonho-me por tais fatos e anseio pelo dia em que os militares de hoje, que nada tiveram com tantos episódios deploráveis, saibam reconhecer e desculpar-se pelos erros do passado. E, ainda como brasileiro, orgulho-me ser compatriota deste ilustre advogado. (Acrescentado em 13 de setembro de 2014)

Heráclito Fontoura Sobral Pinto, nascido em Barbacena, Minas Gerais, em 5 de novembro de 1893 e falecido no Rio de Janeiro em 30 de novembro de 1991, aos 98 anos, foi um jurista brasileiro, defensor dos direitos humanos, especialmente durante a ditadura do Estado Novo e a ditadura militar instaurada em 1964.

Embora tenha iniciado sua carreira como advogado na área de Direito Privado, acabou por se notabilizar como brilhante criminalista defensor de perseguidos políticos. E, apesar de católico fervoroso que ia à missa todas as manhãs, aceitou defender o comunista Luís Carlos Prestes que fora preso após o levante comunista de 1935. No caso do alemão Harry Berger, que também fora preso e severamente torturado após o mesmo levante, Sobral Pinto exigiu ao governo a aplicação do artigo 14 da Lei de Proteção aos Animais ao prisioneiro, fato bastante inusitado.

A História:

Em 13/Dez/68, quando o arbítrio tomou corpo no AI-5, às 19:30h, o ilustre advogado estava de pijamas e chinelo no quarto de hotel em Goiânia, onde iria mais tarde ser paraninfo de uma formatura. Um major arrombou a porta acompanhado de seis homens armados e em fila.

_ Eu trago ordem do presidente Costa e Silva para o senhor me acompanhar.

Sobral pinto permaneceu sentado.

_ Meu amigo, o marechal Costa e Silva pode dar ordens ao senhor. Ele é marechal, o senhor major. Mas eu sou paisano, sou civil. O presidente da República não manda no cidadão. Se esta é a ordem, então o senhor pode se retirar porque eu não vou.

_ O senhor está preso! _ gritou o major.

_ Preso coisa nenhuma!

A uma ordem do major, os homens que o acompanhavam atiraram-se sobre o velho sentado, agarrando-o e arrastando até o elevador, pelo saguão do hotel até ser jogado no banco traseiro de uma viatura.

Ao comandar aquele seqüestro, o major aprendeu que a bravura cívica pode ter 75 anos, pesar 67 quilos e andar de pijama e de chinelo.

Ao chegar ao quartel, o coronel comandante perguntou:

_ O senhor é patriota?
_ O senhor engula o que está dizendo! Eu sou patriota, o senhor não. O senhor vive à custa do Estado, eu não. _ respondeu o Dr. Sobral.
_ Retirem esse homem e ponham na prisão.

Assim aconteceu com um dos maiores juristas brasileiros, que lutou contra duas ditaduras, sempre defendendo os valores democráticos e os direitos humanos.

14 anos antes deste episódio, após garantir juridicamente a posse do presidente Juscelino, pois os militares já ali queriam dar um golpe e não deixá-lo assumir, o Dr. Sobral Pinto recusou o cargo de ministro do STF, para que não pairasse dúvidas sobre a brilhante defesa que fez da posse do presidente: em hipótese alguma ela foi movida por interesses pessoais.

Bibliografia:

VENTURA, Zuenir. 1968: O ano que não terminou. São Paulo: Planeta, 2008.

WILLIAM, Wagner. O Soldado Absoluto - Uma Biografia Do Marechal Henrique Lott. São Paulo: Record, 2005.

Wikipedia - Heráclito Fountoura Sobral Pinto
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%A1clito_Fontoura_Sobral_Pinto
Visitado em: 07 de junho de 2008

sábado, 4 de junho de 2011

Capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho

“E quem desconhece a história, como se sabe, é condenado a repeti-la.”
Goethe

"Anistia-se a quem cometeu alguma falta. Eu não posso ser anistiado pelo crime que evitei."
Capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho

"Juscelino sabia que todos aqueles majores, coronéis e generais que usurparam o poder sufocando a democracia, ao contrário dele, sairiam na urina da História."
Vitório Cabral, relatando o contato que teve com o ex-presidente logo após este deixar a prisão em 1968

"Foi a admirável ação de um simples capitão, verdadeiramente inspirado por Deus, que evitou outros rumos para a história do Brasil."
Brigadeiro Eduardo Gomes, em carta dirigida ao ditador Ernesto Geisel no dia 20 de maio de 1974

"O capitão Sérgio tem o mérito de haver-se oposto ao plano diabólico e hediondo do brigadeiro João Paulo Penido Burnier, que, em síntese, se consumaria através da execução de atos de terrorismo."
Brigadeiro Eduardo Gomes, na mesma carta citada acima.

A História

No dia 4 de abril de 1968, o capitão pára-quedista Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, aos 37 anos, com 6 mil horas de vôo, novecentos saltos em missão e "quatro medalhas de sangue em tempos de paz" por seu trabalho nas selvas, salvando índios e pacificando tribos, admirado pelos irmãos Vilas-Boas, pelo médico Noel Nutels, pelo antropólogo Darcy Ribeiro, amigo de caciques como Rani, Kremure, Kretire, Megaron e Krumari, que o conheciam como "nambiguá caraíba" (homem branco amigo), não estava no Rio de Janeiro.

Neste dia, o Para-Sar, do qual foi um dos fundadores, recebeu a missão de reprimir uma passeata. O comandante da esquadrilha, major Gil Lessa de Carvalho, deu a ordem: "Tomem conta principalmente das janelas, para ver quem atira coisas contra a polícia. Caso descubram alguém, invadam o local e liquidem quem estiver lá. A fuga de vocês estará coberta."

Apenas uma invasão teve efeito, quando um saco plástico com água foi atirado do edifício de número 13 da avenida 13 de Maio. Os pára-quedistas subiram de elevador, acompanhados de homens do DOPS, e tentaram interditar um andar, justamente onde funcionava o Conselho Nacional de Petróleo. Os oficiais-generais e coronéis que ali trabalhavam expulsaram o grupo.

De posse destas informações, o capitão Sérgio dirigiu-se ao brigadeiro Labarthe Lebre, comandante da Escola de Aeronáutica do Campo dos Afonsos, manifestando suas preocupações com o envolvimento do Para-Sar em operações ilegais. Lebre recomendou ao subordinado que não desse importância ao caso.

Tempos depois, o capitão Sérgio recebia uma mensagem de rádio, cifrada, do brigadeiro Burnier, convocando-o para uma reunião. No dia 12 de junho, Sérgio era recebido no gabinete do ministro da Aeronáutica por Burnier e pelo brigadeiro Hipólito da Costa, recém-chegado da Zona do Canal do Panamá.

Burnier disse para seu colega: "Brigadeiro, o capitão Sérgio continua fazendo comentários, doutrinando contra o emprego, por nós previsto, para o Para-Sar".

E para o capitão: "O senhor tem quatro medalhas por bravura, não tem? Pois a quinta, quem vai colocar no seu peito sou eu. Capitão, se o gasômetro da avenida Brasil explodir às seis horas da tarde, quantas pessoas morrem?"

Sérgio quis ainda acreditar que a pergunta se referia à hipótese de um acidente e respondeu: "Nessa hora de movimento, umas 100 mil pessoas".

O brigadeiro Burnier então comentou: "É, vale a pena para livrar o Brasil do comunismo."

De repente, como num pesadelo, o horror ia ganhando forma. O plano previa várias missões, uma das quais seria o seqüestro de quarenta personalidades, a serem lançadas ao mar. E cinco já estavam até escaladas: Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek, D. Hélder Câmara e o general Olympio Mourão Filho. As outras seriam anunciadas verbalmente, de cinco em cinco.

A primeira parte do plano programaria "pequenos incidentes", já que a escalada terrorista deveria ser gradativa: cargas na porta da Sears, do Citibank, da embaixada americana, com pequeno número de mortes. E num dia X, o clímax do processo: as explosões do gasômetro e de Ribeirão das Lajes, no mesmo instante, comandadas por controle remoto.

As cargas, de efeito retardado, seriam colocadas pelo capitão Sérgio, que ficaria de stand by no Campo dos Afonsos. Quando aparecesse o clarão da direita, o do gasômetro, decolariam com helicópteros e aportariam no local da tragédia para dar socorro aos milhares de feridos e mortos.
Como o ato seria atribuído aos comunistas, o capitão Sérgio, comandando a equipe de socorro e resgate, surgiria naturalmente como herói. Um herói capaz de receber sua quinta medalha.

O capitão tentou argumentar: "Nós temos um governo militar, o presidente é o marechal Costa e Silva..."

"Bosta e Silva", corrigiu o brigadeiro, já incontrolável, e continuou: "O momento histórico é esse, Sérgio. Os americanos dominam o Atlântico Sul e os comunistas não têm fronteiras de apoio... O Sérgio, eu e o Hipólito vamos pilotar um C-47 cheio dessa canalha comunista, o Chico Teixeira, o Malta, o Anísio, o Fortunato, e vamos empurrar todos com o pé na bunda pra dentro d'áqua. Eu quero saber mesmo é se você vai buscar os caras onde eles estiverem."

Sérgio estava disposto a não deixar dúvidas e a encerrar a sessão: "Não, brigadeiro, eu acho que os senhores não estão falando a sério. O que torna uma missão legal e moral não é a presença de dois oficiais-generais à frente dela, o que a torna legal é a natureza da missão."

"Agora, chega de papo", encerrou Burnier, " e depois de amanhã eu quero todos aqui dentro."

Sérgio levou um susto, porque até então a conversa era mais ou menos privada e perguntou: "Todos, como, brigadeiro? Os cabos e sargentos também?".

"Todos do Para-Sar: cabos, sargentos, oficiais e, se tiver cachorro naquela merda, traga também.", respondeu o brigadeiro.

Na reunião realizada no dia 14 de junho, no 11º andar do prédio do então Ministério da Aeronáutica, na avenida Churchill, centro do Rio, estavam mais de quarenta pessoas, guardadas por uma dezena de soldados armados de metralhadoras, para ouvir a exposição do brigadeiro Burnier, que respondia pela chefia do Gabinete do ministro da Aeronáutica. Nela, foram informadas quais seriam as novas tarefas do Para-Sar:

1. No caso de uma guerra, ante a necessidade de resgatar um companheiro ou um prisioneiro, a exemplo do que faz o Sar dos EUA no Vietnã, o Para-Sar pode matar para cumprir sua missão.

2. No caso de uma guerra civil contra revolucionários compatriotas, estes tem que ser eliminados pelos homens do Para-Sar.

3. No caso de paz, mas em agitações de rua, o Para-Sar também deverá desempenhar a mesma missão.

E o brigadeiro continuou: "Para cumprir missões de morte na guerra, é preciso matar na paz. Matar com sangue-frio, sem que a mão trema, como aconteceu com os companheiros do Exército, os pára-quedistas. Figuras políticas como Carlos Lacerda, esse canalha, que alguns pensam que é meu amigo, já deveriam estar mortas, se não fosse a mão dos pára-quedistas ter tremido; eles se perderam em considerações se a ordem era certa ou errada. Ordens desta natureza não comportam perguntas nem dúvidas, cumprem-se e não se fazem comentários posteriores. Elementos indesejáveis serão lançados de navio, ou avião, a quarenta quilômetros da costa."

Ao final da explanação, o brigadeiro dirigiu-se a alguns oficiais:

_ Concorda comigo, major?

_ Sim senhor _ respondeu o comandante da esquadrilha, major Gil Lessa de Carvalho.

_ E o senhor, capitão Guaranys?

_ Sim, senhor _ disse o capitão Roberto Camara Lima Ipiranga dos Guaranys.

A mesma pergunta, seguida das mesmas respostas, foi feita ainda ao capitão Loris Areais Cordovil e ao tentente João Batista Magalhães.

_ E o senhor, capitão Sérgio?

_ Com as duas primeira hipóteses, concordo. Mas não concordo com a terceira, que considero imoral, inadmissível a um militar de carreira. Enquanto eu estiver vivo isso não acontecerá neste país.

_ Não se estenda em considerações _ berrou o brigadeiro. _ Cale a boca!

_ Não me calo e o ministro será sabedor desses fatos _ revidou no mesmo tom o capitão.

No dia seguinte, o capitão Sérgio procurou o brigadeiro Délio Jardim de Matos, de quem tinha sido assessor durante cinco anos.

_ Isso é tão grave _ impressionou-se o brigadeiro _ que só um homem pode segurar esse abacaxi: O velho Eduardo Gomes.

Eduardo Gomes aconselhou o major-brigadeiro Itamar Rocha, então diretor-geral de Rotas Aéreas do Ministério da Aeronáutica, a iniciar uma sindicância.

O que se seguiu a isso foi a exoneração do major-brigadeiro Itamar Rocha, seguida de sua prisão domiciliar por dois dias. O capitão Sérgio foi punido logo com uma transferência para o Recife, julgado e absolvido pelo Superior Tribunal Militar, reformado pela Junta Militar em setembro de 1969.

O capitão poderia ter sido anistiado, mas recusou a anistia. "Anistia-se a quem cometeu alguma falta", costumava dizer. "Eu não posso ser anistiado pelo crime que evitei."

No dia 20 de maio de 1974, em longa e comovida carta ao então presidente Ernesto Geisel, o brigadeiro Eduardo Gomes historiou o episódio e solicitou "a devida reparação da imensa injustiça", declarando-se "pessoalmente atingido pelo que foi feito contre esse digno oficial, a quem sempre emprestei o meu inteiro apoio moral". Depois de lembrar a unânime absolvição de Sérgio no STM, "no processo iníquo que lhe foi movido por seus algozes", o brigadeiro escreveu: "Não posso mais arrastar comigo o peso dessa injustiça que me oprime o cansado coração". O Patrono da Força Aérea Brasileira e Ministro da Aeronáutica por duas vezes, no Governo Café Filho (24 agosto de 1954 a 11 novembro de 1955) e no Governo Castelo Branco (11 de janeiro de 1965 a 15 março de 1967), morreu em 1981 sem que o aliviassem do "peso desta injustiça".

Perseguido e discriminado, Sérgio teve que viver, durante anos, da solidariedade moral e material de alguns amigos. Em 1970, necessitando de um tratamento de coluna, foi aconselhado a não se internar em hospital militar. Um médico da Aeronáutica avisou Eduardo Gomes: "A vida de Sérgio, se ele entrar em um hospital militar de qualquer das três armas, não vale dez centavos". Graças ao Jornalista Darwin Brandão, com o auxílio do médico Sérgio Carneiro, o oficial acabou sendo tratado clandestinamente no Hospital Miguel Couto. Um outro amigo, ex-capitão da Marinha e empresário, Cao Braga, ajudou-o com 3 mil dólares.

Em 1978, o brigadeiro Burnier desmentiu todo o plano: "Tanto era fantasia desse rapza doente, revoltado, de mente doentia, que não fui punido. Eles sim é que sofreram punições disciplinares, foram presos e separados para ver se paravam com a campanha". Essa tese, juridicamente absurda, tenta demonstrar que, se não houve punição, é porque não hove crime. A impunidade deixaria assim de ser agravante para ser abolvição.

Em 1998, ao prestar depoimento para o jornalista Zuenir Ventura, o ex-ministro da Aeronáutica Márcio de Souza Mello não deu a menor importância ao episódio: "O senhor conhece esse rapaz? Ele, sim, é que tinha esse plano". Mesmo quando se alega o testemunho de 37 cabos e sargentos do próprio Para-Sar, o brigadeiro tem um argumento definitivo para quem está acostumado a hierarquizar o mundo, as coisas e até o valor das palavras de acordo com as patentes: "É a palavra de cabos e sargentos contra a palavra de oficiais".

O arquivo de um dos episódios mais sombrios do regime militar virou cinzas. Em resposta a uma solicitação do GLOBO sobre o “Caso Para-Sar”, episódio em que o então capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho se opôs em 1968 a um plano do brigadeiro João Paulo Burnier de explodir o gasômetro do Rio de Janeiro e a represa de Ribeirão das Lajes e culpar terroristas pela ação, o Comando Aeronáutica informou os arquivos de época, guardados nas instalações da Força Aérea no Aeroporto Santos Dumont, foram destruídos no incêndio ocorrido em fevereiro 1998.

Em 2000, aos 90 anos, faleceu o brigadeiro Burnier, que após ser transferido para a reserva em 1974, fundou neste mesmo ano junto com outros militares a Xtal do Brasil, empresa voltada para a industrialização e comercialização do cristal de quartzo e posteriormente fabricação de fibra ótica, que manteve estreitos laços com o CPqD e a Telebrás.

Em 2004, trinta e seis anos depois, a Aeronáutica afirmou que as denúncias de Sérgio Macaco sobre os planos de Burnier eram infundadas. “Uma sindicância e três inquéritos policiais militares foram instaurados e concluíram que as denúncias não tinham o menor fundamento e não passavam de ilações despropositadas do capitão Sérgio”, alegou o brigadeiro-do-ar Antonio Guilherme Telles Ribeiro, então chefe do Centro de Comunicação da Aeronáutica (Ceconsaer).

O capitão Sérgio só teve os seus direitos reconhecidos cinco dias após a sua morte, em 1994, quando uma decisão judicial o promoveu a brigadeiro. A Aeronáutica, porém, nunca mudou o seu ponto de vista sobre o militar: “Em virtude de seu comportamento recorrente de insubordinação e de suas constantes tentativas de desestabilização da tropa, foi instaurado um processo de investigação sumária que concluiu pela reforma do capitão-intendente Sérgio Miranda de Carvalho, proposta que foi aceita e aprovada pela Junta Militar”, disse o chefe do Ceconsaer.

Bibliografia:

VENTURA, Zuenir. 1998: O ano que não terminou. São Paulo: Planeta, 2008.

Arquivologia UFBA
Disponível em: http://www.mail-archive.com/arquivologia-l@listas.ufba.br/msg00043.html
Visitado em: 24 de maio de 2008

Os Anos JK - FGV CPDOC
Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/biografias/Joao_Paulo_Burnier.asp
Visitado em: 24 de maio de 2008

Eduardo Gomes - Wikipédia, a enciclopédia livre
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_gomes
Visitado em: 24 de maio de 2008

Inovação - Unicamp
Disponível em: http://www.inovacao.unicamp.br/report/news-40anos-smolka.shtml
Visitado em: 24 de maio de 2008

Delmiro Gouveia - Uma Fábrica no Sertão

A Destruição
Em abril de 1930, uma equipe de demolidores partiu do porto de Recife para uma longa viagem. Navegaram para o sul até o porto de Piassabussu, na foz do rio São Francisco. Subiram o rio até Piranhas, de onde puderam prosseguir viagem pela ferrovia, até chegar ao distrito da Pedra, município de Água Branca, no extremo oeste das Alagoas, a 400 quilômetros do litoral.
Chegando, iniciaram imediatamente o cumprimento de sua tarefa. Com marretas, destruíram meticulosamente um grande número de máquinas inglesas ali instaladas, numa grande fábrica. Depois, transportando os destroços em carretas puxadas por juntas de boi, dirigiram-se para a cachoeira de Paulo Afonso, distante 20 quilômetros, e jogaram tudo penhasco abaixo.
O Brasil não era mais uma colônia e eles não estavam dando cumprimento a nenhum alvará régio. Tratava-se isto sim, de mais uma batalha numa guerra que havia sido prevista pelos industriais brasileiros.

Distrito de Pedra - Condições sociais invejáveis até para os dias atuais
O distrito da Pedra, onde se deu aquela batalha estúpida de homens contra máquinas, contava com uma população de cerca de cinco mil pessoas. Suas residências eram servidas de luz elétrica, água corrente e esgotos. Funcionavam ali oito escolas, sendo duas profissionais. Dali partiam cinco estradas de rodagem e as terras em redor, beneficiadas pela irrigação, produziam algodão, mandioca, feijão, milho e arroz. Havia criação de gado zebu e holandês e estavam sendo realizadas experiências com novos cruzamentos.

Companhia Agro-Fabril Mercantil
Toda essa atividade era resultado da atuação da Companhia Agro-Fabril Mercantil, organizada em 1912. O artigo 4º de seus estatutos descrevia assim seus objetivos:
"A Companhia tem por fim explorar nos Estados de Pernambuco, Alagoas e Bahia o comércio de gado vacum, cavalar, caprino e ovino, plantio de algodão, irrigação de terras secas, força elétrica e suas aplicações em indústria fabril, para o que se utilizará dos direitos e concessões feitas pelo governo do Estado de Alagoas aos incorporadores ou organizadores da Cia., os senhores Iona & Cia., conforme decretos 499, 503 e 520, que concederam o direito de aproveitamento das terras secas e devolutas no município de Água Branca, a isenção de impostos para a exploração de uma fábrica de linhas e o aproveitamento da força hidrelétrica e sua transmissão em todo o Estado..."

Delmiro Gouveia
O organizador da empresa foi o cearense Delmiro Gouveia, que chegou a Pedra em 1903, quando ali havia pouco mais de cinco casebres em torno de um terminal da ferrovia que unia Piranhas a Petrolândia, pela qual circulava um trem por semana. Filho ilegítimo de um fazendeiro e negociante de gado, que morrera na Guerra do Paraguai, ele contava então com cerca de 40 anos e havia sido um bem sucedido comerciante na cidade do Recife.

"Rei das Peles" - A prosperidade no Recife
A trajetória de Delmiro Gouveia tem dois momentos. Primeiro momento: servindo inicialmente de intermediário entre os produtores de peles de cabra, carneiro e couros de boi espalhados por todo o sertão nordestino e os comerciantes estrangeiros sediados no Recife, trabalhou depois para a Keen Sutterly & Co., da Filadélfia. Tornou-se em 1892, gerente de sua filial. No ano seguinte, quando a matriz faliu, ele comprou seus escritórios no Recife e fundou a Delmiro Gouveia e Cia. Ligou-se à firma L. H. Rossbch, Brothers de Nova York e, com seu apoio financeiro, eliminou todos os concorrentes. Com postos de compra espalhados por todo o Nordeste, tornou-se conhecido como o "rei das peles". Sua residência, um palacete que pertencera ao gerente da filial do British Bank, tornou-se ponto de freqüência obrigatória para o "grand monde" recifense.
Ampliou e diversificou seus negócios construindo o grande Mercado do Derby, a primeira instalação da cidade a ser servida de energia elétrica. Adquiriu a Usina Beltrão, que com maquinismos importados da Europa pretendia refinar o açúcar bruto dos engenhos e bangüês por um processo de dupla cristalização, à vácuo.
Embora tenha chegado a presidir a Associação Comercial, Delmiro Gouveia havia se indisposto com os oligarcas da família Rosa e Silva que governava o Estado. Sua refinaria foi boicotada pelos produtores e seu mercado incendiado. Faliu, foi perseguido e, sob ameaça de prisão, viu-se forçado a fugir para o vizinho estado de Alagoas, terminando por se instalar no distrito de Pedra.

Reerguimento de Delmiro Gouveia - Distrito de Pedra
Segundo momento: com apoio financeiro dos irmãos Rossbach, uniu-se a dois sócios italianos, Lionelo Iona e Guido Ferrário, formando a firma Iona e Cia., com sede em Maceió.
A região onde ficava situado o distrito da Pedra, na confluência de quatro estados, servida por ferrovia e banhada pelo rio São Francisco, funcionava como corredor de todo o comércio do sertão. Tropas de burros - a firma chegou a possuir 200 - traziam peles e couros dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Sergipe. Na Pedra elas eram tratadas e enfardadas. Seguiam de tem até Piranhas, desciam o São Francisco até Penedo e por mar seguiam para Maceió, de onde eram exportadas para os Estados Unidos. Em pouco tempo, Delmiro recuperou sua fortuna e o título de "rei das peles".

Delmiro Gouveia - Pioneiro da Eletrificação (Antevisão de Paulo Afonso como fonte de energia para o Recife)
Delmiro Gouveia viajou diversas vezes à Europa e aos Estados Unidos e viu de perto os efeitos revolucionários que a utilização da energia elétrica tivera na indústria. Quando ele conheceu o distrito da Pedra, sua proximidade da cachoeira de Paulo Afonso e as possibilidades de explorar racionalmente toda aquela região, teve a idéia de realizar ali um grande projeto.
Em 1909 ou 1910, chegou à Pedra uma comissão de cientistas, engenheiros e técnicos, liderados por um empresário norte-americano de nome Moore. Visitaram a cachoeira, avaliaram suas possibilidades e, em sucessivas reuniões com Delmiro, acertaram a formação de uma grande empresa. O plano: Delmiro deveria comprar as terras adjacentes à cachoeira nos estados de Alagoas, Pernambuco e Bahia. Em seguida conseguir autorização desses três Estados para explorar a cachoeira. Satisfeitas estas pré-condições, os capitais norte-americanos fluiriam para a construção de uma grande hidrelétrica, que geraria energia para iluminar e abastecer o Recife. A energia restante seria utilizada para um empreendimento agro-industrial a se instalar nas terras em torno da cachoeira. Plantações irrigadas forneceriam matérias-primas para indústrias que seriam movidas pela abundante energia.

Negativa do Gov. Dantas Barreto da instalação dos postes em solo pernambucano
Delmiro começou a adquirir as terras e obteve diversos contratos de opção de compra e venda. Mas o governo de Pernambuco, mesmo depois da substituição da oligarquia Rosa e Silva, não quis negócios com ele. Conta-se que o governador Dantas Barreto, eleito no final de 1911, consultado por Delmiro se autorizaria a instalação em território pernambucano dos postes para conduzir a eletricidade até a capital, teria respondido: "O negócio que o senhor propõe é tão vantajoso para o Estado que deve envolver alguma velhacaria". E negou. Sem autorização governamental, o contrato com os americanos não pôde ser cumprido.

Redimensionamento dos projetos de geração de energia
Forçado a reduzir as dimensões do projeto, e sempre com o apoio dos irmão Rossbach, ele organizou a Cia. Agro-Fabril Mercantil. Com turbinas e geradores alemães e suíços, instalou, num dos saltos da cachoeira, o de Angiquinho, no lado alagoano do rio, uma usina hidrelétrica que gerava 1.500 HP, com uma voltagem de 3 KV. Pessoalmente, escolheu, na Inglaterra, máquinas da indústria Dobson & Barlow, para uma fábrica que iniciou, em 6 de junho de 1914, a produção de linhas de coser, para rendas e bordados, fios e cordões de algodão cru em novelos, fios encerados e fitas gomadas para embrulhos.

O sucesso das linhas Estrela
A fábrica era formada por três grandes pavilhões unidos entre si. No primeiro ano, empregando 800 operários, a produção diária era de 1.500 a 2 mil carretéis. As caixa para embalagem eram construídas com tábuas de pinho que vinham do Paraná. Os carretéis vinham da Finlândia e o primeiro algodão processado veio do Egito. Em seguida este foi substituído pelo nacional, do tipo seridó, que a empresa plantava em suas terras. Os rótulos com a marca Estrela eram impressos em litografia instalada na própria fábrica.
O mercado brasileiro, assim como o latino-americano, de linhas de costura era monopolizado, até então, pelo grupo britânico Machine Cotton (atual Linhas Corrente), encabeçado pela J.P.Coats & Co. e tendo como subsidiárias a Clark & Co. e a Ross & Duncan. Com o início da Primeira Guerra Mundial, seus produtos escassearam no mercado. A produção da Pedra havia começado dois meses antes do começo da Guerra. A linha marca Estrela, que logo se tornou conhecida por sua qualidade e resistência, obteve aceitação imediata. A fábrica passou a funcionar 24 horas por dia, em três turnos de 8 horas, produzindo mais de 20 mil carretéis por dia. A Cia Agro-Fabril instalou depósitos no Rio de Janeiro, Recife, Paraíba e Fortaleza, chegando a empregar 3.500 pessoas em suas diversas atividades. Em 1916, as linhas Estrela abasteciam os mercados da Argentina, Chile, Peru e outros países andinos.

Reação da Machine Cotton (Linhas Corrente)
A Machine Cotton não demorou a reagir. Em 1916, mesmo antes da Guerra terminar, registrou no Chile e Argentina a marca Estrela, forçando o produto brasileiro a voltar à Pedra para ser embalado e ter seus rótulos trocados. Em seguida, tentou comprar a fábrica de Delmiro oferecendo-se a pagar um preço equivalente a três vezes o capital realizado mais os lucros previstos para os próximos dez anos. Depois de ver recusada essa oferta, em tom de ultimato, exigiu obter uma participação mínima na empresa em troca de "parar a guerra" movida contra a marca Estrela. A intensidade da guerra que estavam dispostos a manter pode ser avaliada se levarmos em conta que o truste alegou ao jornal Daily Mail de 19 de fevereiro de 1920 que, no ano anterior, seus lucros haviam sido de 19% na Inglaterra e de 80 % no Exterior.

Morte de Delmiro Gouveia
Delmiro Gouveia, que recusou todas as ofertas ,não viveu para participar das últimas batalhas dessa guerra. Em 10 de outubro de 1917, foi assassinado em circunstâncias nunca total mente esclarecidas.
Ele havia encomendado quatro novas turbinas e pretendia geral 10 mil HP para alimentar uma fábrica de tecidos com 2 mil teares. Pesquisava a possibilidade de industrializar as fibras da região como o sisal e caroá. Além disso, pretendia plantar fumo e fabricar cigarros. Da cana-de-açúcar contava extrair a celulose e lançar-se à produção de papel.

Intensificação da guerra contra as linhas Estrela
Depois de sua morte, as pressões do truste se intensificaram. Por todo o território nacional os comerciantes passaram a ser chantageados para não vender as linhas da marca Estrela. Além dos 10% de comissão, a Machine Cotton dava aos comerciantes um bônus semestral no valor de 5% das vendas totais. Ela passou a retirar esses bônus daqueles que insistissem em vender o produto brasileiro. Agentes do truste se disfarçavam de fregueses, e funcionários da Recebedoria do Estado eram subornados para elaborarem listas de comerciantes que compravam as linhas Estrela clandestinamente.
Mas a tática que definiu o destino da guerra foi a prática da manobra conhecida com "dumping". As linhas da Machine Cottom eram vendidas aqui pela metade do preço que alcançavam na Inglaterra, apesar dos gastos com fretes e tarifas. Dessa forma foram liquidadas duas outras fábricas que haviam se instalado no país. E o truste comprou, depois de forçar sua desvalorização, as ações da Cia. Brasileira de Linhas de Coser, de São Paulo, que se tornou sua subsidiária.

Pres. Artur Bernardes defende a Cia. Agro-Fabril contra "dumping"
Tais práticas foram denunciadas oficialmente no Decreto 17.383 de 19 de julho de 1926 que o presidente da República Artur Bernardes assinou, quintuplicando o valor da taxa de importação sobre linhas de coser. O texto introdutório do Decreto aludia à "terrível concorrência" movida contra a única fábrica brasileira de linhas e baseava-se em documentos apresentados pela Cia Agro-Fabril para afirmar que estava evidenciado o "propósito dos fabricantes estrangeiros de extinguir a concorrência nacional, para, dominando o mercado, estabelecerem preços exorbitantes".

Pressão dos banqueiros ingleses
(Qualquer semelhança com os dias atuais de "globalização" não é mera coincidência)
Dois anos depois, no governo Washington Luis, a lei foi revogada. Empenhado em estabilizar a moeda e contando para isso com os banqueiros ingleses, o presidente teria sido advertido, pelo embaixador britânico Henry Lynch, de que os banqueiros seus compatriotas considerariam a volta da barreira alfandegária como um ato de hostilidade.
No dia de finados, 2 de novembro de 1929, em Paislay, Escócia, na sede da Machine Cotton, a fábrica da Pedra foi vendida por 27 mil libras, seguindo-se o desmantelamento das máquinas.

BIBLIOGRAFIA
Azevedo, Carlos e Zago Jr, Guerino. Série "Retrato do Brasil": Do Tear ao Computador - As lutas pela industrialização no Brasil. São Paulo, Editora Política, 1988

Fonte para aprofundamento no tema
Martins, F. Magalhães. Delmiro Gouveia - Pioneiro e Nacionalista. 2ª Edição. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/MEC, 1976.

Agradecimentos:
  • Aos jornalistas Carlos Azevedo e Guerino Zago Jr, a toda a equipe por eles dirigida e à Editora Política que, após exaustivo trabalho, permitiram que tomássemos conhecimento dos esforços pela industrialização no Brasil.

  • A todos aqueles que continuam acreditando na possibilidade de fazermos um Brasil grande, com o fortalecimento da produção nacional, do mercado interno, uma distribuição de renda mais igualitária, saúde e, acima de tudo, educação para todos, a despeito de todo o estrago realizado nos últimos anos pelos que rezam pela cartilha neo-liberal.
Críticas, comentários e sugestões:
Esta página foi organizada e publicada na Web em 1997, quando a internet era ainda incipiente, e permaneceu disponível de forma contínua até 2007, quando o retiramos do ar por desserviço do antigo provedor.
Críticas, comentários e sugestões serão sempre bem vindos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Isaías de Souza do Ó e seu núcleo familiar

Isaías de Souza do Ó casou-se com Dona Alice do Ó, com quem teve os seguintes filhos: Edvaldo de Souza do Ó, Edson de Souza do Ó, José de Souza do Ó , Eudes de Souza do Ó, Djalman de Souza do Ó e Salete de Souza do Ó.

Dona Alice (segundo Clotilde Tavares, médica, escritora e professora universitária)
Durante muitos anos minha família foi vizinha de Dona Alice do Ó, viúva, moradora à rua Miguel Couto em Campina Grande. Isso foi nos anos de 1956 - mais ou menos - até 1961.
Uma senhora boníssima, que nos permitia usar o telefone e a geladeira (os únicos da vizinhança). Parece que estou ouvindo a voz de Mamãe dizendo: "Vá buscar a carne na casa de Dona Alice", e lá ia eu bater à porta do sobrado, que passava duas casas da minha, descendo a rua, para pegar a "nossa" carne, que estava na geladeira dela. Lá vinha ela: magrinha, cabelos brancos semilongos, sempre com um meio sorriso, muito arrumada, de brincos, muito parecida com a filha Salete, que estudava na Escola Doméstica de Natal. Eu devia ter entre 10 e 14 anos de idade.


Edvaldo de Souza do Ó, nascido em 05/Jun/1929, foi figura importantíssima da história campinense, paraibana e nordestina. Professor, economista, empresário, desportista e, acima de tudo, visionário, seu nome está fortemente relacionado ao desenvolvimento de Campina Grande. Tendo exercido inúmeros cargos nas administrações municipal e estadual, foi ainda professor fundador da hoje Universidade Federal de Campina Grande, organizador da Empresa de Saneamento de Campina Grande - SANESA, cordenador da transformação da autarquia DASEC em Companhia de Eletricidade da Borborema - CELB, criador da Sociedade de Economia Mista Telecomunicações de Campina Grande - TELINGRA, criador e cordenador do Museu de Artes Assis Chateaubriand, que guarda um rico acervo de obras de pintores e escultores nacionais, criador da Fundação Universidade Regional do Nordeste - FURNE e fundador da Universidade Regional do Nordeste, hoje Universidade Estadual da Paraíba - UPEB, da qual foi reitor. Criou, em 1975, a Bolsa de Mercadorias da Paraíba, que na década de 80 chegou a ser a segunda mais importante do País. Difícil encontrar alguém com um histórico de vida tão vasto e tamanho zelo e dedicação à sua cidade natal.

Edson de Souza do Ó casou-se com Iraci Maria de Lima, com quem teve três filhos: Edson de Souza do Ó Filho, Ana Paula de Lima do Ó e Maria Raquel Lima do Ó.
Foi um dos grandes empreendedores da Paraíba, tendo participado ativamente da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, de quem chegou a ser um dos vice-presidentes. Também foi diretor-presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico do Estado da Paraíba e diretor do Sindicato da Construção Imobiliária do Estado da Paraíba. Edson do Ó foi um dos responsáveis pelas construções dos prédios que mudaram o perfil urbanístico de Campina Grande, no final da década de 60 e início da década de 70.

(*) As informações sobre a descendência de Isaías do Ó me foram passadas por seu neto, Eudes do Ó.

1º Encontro dos Descendentes de Juvino de Souza do Ó

1º Encontro dos Descendentes de Juvino de Souza do Ó

Em 12 de junho de 2004, ocorreu em Campina Grande o 1º Encontro dos Descendentes de Juvino de Souza do Ó, organizado de forma primorosa e magistral na sede do antigo engenho Serrotão.

As fotos abaixo me foram enviadas por Janaítsa do Ó, filha de José de Souza do Ó e sobrinha de Edson de Souza do Ó, apresentados nesta ordem na fotografia abaixo. A segunda imagem mostra o busto de Juvino de Souza do Ó, que foi afixado durante este encontro.




segunda-feira, 30 de maio de 2011

Genealogia da Família do Ó

Do Ó - A Família

Não se deve confundir as pessoas que têm o sobrenome do Ó com aquelas que têm apenas o prenome de José do Ó ou Maria do Ó. Nestas, a presença do "do Ó" representa uma atenção ou homenagem religiosa à Nossa Senhora do Ó, cultuada em Portugal e também no Brasil.

O sobrenome "do Ó", já como sobrenome consolidado e não apenas de invocação religiosa, está presente em Portugal na região do Algarve há vários séculos. Documenta-se em Faro já no século XVII e em Olhão a partir do século XVIII. Parece ser particularmente comum em Olhão. Também encontra-se alguns "do Ó" em Tavira a partir do século XVIII.

No início do século passado, emigrou de Portugal para o Brasil um rebento da família do Ó, Francisco de Souza do Ó, estabelecendo sua moradia no lugar Nossa Senhora do Ó, estado de Pernambuco. Não sabemos se a família do Ó deu nome àquela localidade.

Francisco de Souza do Ó, tempos depois, contraiu matrimônio, constituindo família naquela localidade. Um dos filhos do casal, João Francisco de Souza do Ó, já rapaz, obteve de seus pais permissão para se transportar para a cidade de Bom Jardim, no mesmo estado, onde, anos depois, casou-se com uma paraibana de nome Francisca Maria do Espírito Santo, constituindo numerosa família, cujos filhos fora os seguintes: Belarmino de Souza do Ó, José de Souzado Ó, Manoel de Souza do Ó, Joaquim de Souza do Ó, Paulino de Souza do Ó, Juvino de Souza do Ó, Moisés de Souza do Ó (o caçula), e ainda as seguintes filhas: Antônia de Souza do Ó, Alexandrina de Souza do Ó e Maria de Souza do Ó, num total de dez filhos.

No ano de 1876, João Francisco de Souza do Ó decidiu mudar-se de Bom Jardim para a cidade de Campina Grande, no estado da Paraíba, fixando residência no subúrbio denominado Catarina, adquirindo ali uma propriedade, aonde reiniciou sua profissão de agricultor.

No ano de 1878, João Francisco de Souza do Ó, o chefe da família, falecia repentinamente e a viúva, com seus dez filhos, permaneceu na localidade, assumindo a responsabilidade dos filhos, até atingirem a maioridade. Os mais velhos, Belarmino de Souza do Ó e José de Souza do Ó, casaram-se logo, fixando residências também no mesmo município.

Anos depois, Belarmino deixou a cidade de Campina Grande, juntamente com esposa e três filhos, viajando para outras paragens, não chegando a dar mais suas notícias.

José de Sousa do Ó teve, do seu primeiro casamento, apenas uma filha, chamada Maria de Souzado Ó, que casou-se com seu próprio tio, Juvino de Souza do Ó, constituindo numerosa família: Malaquias de Souza do Ó, Zacarias de Souza do Ó, Isaías de Souza do Ó, Heleno de Souza do Ó, Norival de Souza do Ó, Juvino de Souza do Ó Filho, Doralice de Souza do Ó e Zita de Souza do Ó.

Após a morte do patriarca da família do Ó em Campina Grande, João Francisco de Souza do Ó, seus filhos José de Souza do Ó, Manoel de Souza do Ó e Juvino de Souza do Ó ingressaram no comércio de miudezas e mascateação, com "baús nas costas" por todo o município. Anos depois, com seus próprios esforços, conseguiram capital necessário para se estabelecerem no comércio de Campina Grande. Os demais irmãos permaneceram tirando da agricultura o necessário para sua manutenção.

Os estabelecimentos de José, Manoel e Juvino, eram na atual rua Maciel Pinheiro e tinham, pela ordem, os seguintes nomes: Casa da Bandeira, Casa Indiana e O Vesúvio.

Juvino de Souza do Ó foi, por diversas vezes, presidente da Câmara Municipal e prefeito interino de Campina Grande, por um certo tempo. Adquiriu também a patente de major.

O estabelecimento O Vesúvio passou, posteriormente, para as mãos de Malaquias de Souza do Ó. A Casa Indiana passou para Zacarias de Souza do Ó, tendo pertencido depois a Heleno de Souza do Ó.

A família do Ó estendeu-se por quase todo o Brasil, até no Rio Grande do Sul, onde Fernando de Souza do Ó, oficial do Exército, advogado e pregador espírita conhecido por seus inúmeros livros, fixou residência na cidade de Santa Maria.

Observação: A maior parte desta informações foram transcritas de uma antiga publicação da Maçonaria campinense, quando do centenário de Juvino de Souza do Ó, em homenagem ao Maçom muito respeitado que foi.

O Meu Pequeno Núcleo Familiar

Zacarias de Souza do Ó estudou engenharia civil no Rio de Janeiro até o penúltimo ano, quando casou com Elisa Freire de Andrade, também natural de Campina Grande, tendo os seguintes filhos: Maria da Guia Freire do Ó, Evanildo Freire do Ó, Enivaldo Freire do Ó e Marlene Freire do Ó.

Enivaldo Freire do Ó casou-se, em 22 de julho de 1950, com Maria do Socorro Ribeiro Dantas, natural do estado do Rio Grande do Norte. Deste matrimônio, nasceram os seguintes filhos: Evanildo Dantas do Ó, Tânia Dantas do Ó, Enivaldo Freire do Ó Filho, Enilda Vitória Dantas do Ó, Márcia Dantas do Ó e Eider Dantas do Ó.

Evanildo Dantas do Ó, do seu primeiro casamento com Elenice Sevilhana, gerou Elbert Demetrius do Ó. De suas segundas núpcias, com Ana Júlia, nasceu Augusto.

Enivaldo Freire do Ó Filho casou-se com Terezinha Aparecida Bianchi Juliano, tendo os seguintes filhos: Daniela Bianchi do Ó, Bruno Bianchi do Ó e Juliano Bianchi do Ó. Atualmente, residem em São José dos Campos, estado de São Paulo.

Enilda Vitória Dantas do Ó casou-se com João Arthur de Santa Cruz Oliveira, natural de Olinda, tendo as seguintes filhas: Gabriela Dantas de Santa Cruz, Juliana Dantas de Santa Cruz e Isabela Dantas de Santa Cruz. Atualmente residem em Natal.

Márcia Dantas do Ó casou-se com Márcio de Araújo Paiva, tendo os seguinte filhos: Mariana Dantas do Ó Paiva, Marcio de Araújo Paiva Filho e Marina Dantas do Ó Paiva. Atualmente, residem em Curitiba.

Eider Dantas do Ó casou-se com Alexandra Escóssia Cavalcanti Silva, natural de Mossoró, estado do Rio Grande do Norte e tem uma filha, Maria Clara Escóssia Silva do Ó. Atualmente, residem em Recife.

Para Ser Continuado...

O formato linear de apresentação e o não uso da nomenclatura adequada às exposições genealógicas devem-se ao pequeno volume de informações existentes.Peço as minhas mais sinceras desculpas por não haver conseguido uma maior abrangência. Este trabalho foi resultado direto das informações obtidas com Enivaldo Freire do Ó (meu pai), do qual transcrevo: "Não comentei sobre os tios por saber pouco deles e não saber, com certeza, o total e nome de todos os primos legítimos (chamados primos irmãos)".

Entretanto, uma vez que as raízes estão precisamente definidas, a 'extensão horizontal' da árvore torna-se viável, constituindo-se em um trabalho de família, que muito contribuirá para a aproximação e o congraçamento de todos.

Favor remeter críticas, comentários, sugestões e outras informações para serem anexadas a este documento.
Eider do Ó


Observações Importantes:

(1) O texto acima foi publicado na Web em 1997, quando a internet era ainda incipiente, e permaneceu disponível de forma contínua até 2007, quando o retiramos do ar por desserviço do antigo provedor.

sábado, 28 de maio de 2011

Ecumenismo, Ortodoxia, Umbanda e Pai Edu

Este artigo de Enéas Alvares, advogado, jornalista e arcipreste sírio-ortodoxo, foi publicado no Jornal do Commercio em 22 de maio de 2011, no caderno Cidades à página 7.

O casamento de Exu com Pomba-Gira

Fomos vizinhos por quase trinta anos. Manso, inteligente e ladino, Pai Edu marcava a vida religiosa de Olinda pelas ousadias do seu Palácio de Iemanjá, no Alto da Sé. Ali, ele recebia a fina flor da sociedade, senhoras e senhores aflitos com seus amores. Times disputavam a magia de suas mãos, para vencer campeonatos. Afamado e poderoso, lutava pelo título de Rei do Candomblé, que alguém teimava em reduzir a Vice, por despeito, como dizia.

Quando eu escrevia sobre religião para os jornais, Edu me enchia de notícias. Fui o primeiro a divulgar que ele iria casar Exu com Pomba-Gira, no Pátio do Carmo, para desespero de alguns babalorixás revoltados. Suas procissões com o cavalo de São Jorge e suas Panelas de Iemanjá enchiam as ladeiras de Olinda e animavam as madrugadas praieiras. Seus casamentos eram famosos, com pombos brancos soltos em bandos, música e alegria. Levei Pai Edu para um programa religioso que mantive na TV, onde suas alvas baianas evoluíam ao menor sinal de seu comando.

Nos meus 50 anos de idade, ao lado de figuras como dom Helder Camara, dom José Cardoso, dom Paulo Garcia, sheik Mabrouk al Sawid, Isaac Schakner, pr. Enos Moura, Humberto Vasconcelos e tantos outros religiosos, Edu gravou para mim um belo depoimento, que guardo como relíquia, invocando as forças de todos os Exus, para que eu continuasse do jeito que sou...

De repente, Edu nos deixou, como todos os mortais, para se apresentar ao Pai e dar contas de seus atos. Das coisas que realizou, além dos livros que escreveu (um deles com prefácio de Gilberto Freyre) destaco uma confidência que me fez: Enéas, ninguém conquista ninguém com velas e magias. Mulher se conquista com doçura, flores, carinho e lealdade. Homem se conquista com amor, cerveja, cuidados, poucas perguntas e muita paciência. O resto é conversa.

Essa foi a última referência que me ficou de Edwin Barbosa da Silva, o polêmico Pai Edu, acolhedor, conselheiro, bom vizinho e, permitam-me, dedicado colega de ministério religioso que morreu pobre, aos cuidados do SUS. O Pai o acolherá, sem dúvida, no Céu, da mesma forma como ele acolhia, na Terra, os aflitos e humildes que o procuravam. Amém.