sábado, 28 de maio de 2011

Ecumenismo, Ortodoxia, Umbanda e Pai Edu

Este artigo de Enéas Alvares, advogado, jornalista e arcipreste sírio-ortodoxo, foi publicado no Jornal do Commercio em 22 de maio de 2011, no caderno Cidades à página 7.

O casamento de Exu com Pomba-Gira

Fomos vizinhos por quase trinta anos. Manso, inteligente e ladino, Pai Edu marcava a vida religiosa de Olinda pelas ousadias do seu Palácio de Iemanjá, no Alto da Sé. Ali, ele recebia a fina flor da sociedade, senhoras e senhores aflitos com seus amores. Times disputavam a magia de suas mãos, para vencer campeonatos. Afamado e poderoso, lutava pelo título de Rei do Candomblé, que alguém teimava em reduzir a Vice, por despeito, como dizia.

Quando eu escrevia sobre religião para os jornais, Edu me enchia de notícias. Fui o primeiro a divulgar que ele iria casar Exu com Pomba-Gira, no Pátio do Carmo, para desespero de alguns babalorixás revoltados. Suas procissões com o cavalo de São Jorge e suas Panelas de Iemanjá enchiam as ladeiras de Olinda e animavam as madrugadas praieiras. Seus casamentos eram famosos, com pombos brancos soltos em bandos, música e alegria. Levei Pai Edu para um programa religioso que mantive na TV, onde suas alvas baianas evoluíam ao menor sinal de seu comando.

Nos meus 50 anos de idade, ao lado de figuras como dom Helder Camara, dom José Cardoso, dom Paulo Garcia, sheik Mabrouk al Sawid, Isaac Schakner, pr. Enos Moura, Humberto Vasconcelos e tantos outros religiosos, Edu gravou para mim um belo depoimento, que guardo como relíquia, invocando as forças de todos os Exus, para que eu continuasse do jeito que sou...

De repente, Edu nos deixou, como todos os mortais, para se apresentar ao Pai e dar contas de seus atos. Das coisas que realizou, além dos livros que escreveu (um deles com prefácio de Gilberto Freyre) destaco uma confidência que me fez: Enéas, ninguém conquista ninguém com velas e magias. Mulher se conquista com doçura, flores, carinho e lealdade. Homem se conquista com amor, cerveja, cuidados, poucas perguntas e muita paciência. O resto é conversa.

Essa foi a última referência que me ficou de Edwin Barbosa da Silva, o polêmico Pai Edu, acolhedor, conselheiro, bom vizinho e, permitam-me, dedicado colega de ministério religioso que morreu pobre, aos cuidados do SUS. O Pai o acolherá, sem dúvida, no Céu, da mesma forma como ele acolhia, na Terra, os aflitos e humildes que o procuravam. Amém.

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