quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Balanço Geral (Pe Zezinho)

Imagine que sua vida seja tão interessante ou mais interessante que a minha. Quero crer que seus relacionamentos sejam até melhores do que os meus. Mas chego aos 68anos de idade e a mais de 45 anos lidando diretamente com as pessoas, todo tipo de pessoa.
Num balanço geral desses relacionamentos, conheci de tudo, aqui e no exterior. Deram-me chances e oportunidades, puxaram meu tapete, cederam o seu lugar, tomaram o meu lugar, ajudaram-me, roubaram de mim, elogiaram-me, defenderam-me, caluniaram-me, tentaram me destruir, tentaram me salvar, permaneceram fiéis, traíram, prometeram e cumpriram, prometeram e não cumpriram. Intencionalmente tentaram me ferir, tentaram me curar as feridas, oraram por mim, oraram contra mim, contaram verdades, inventaram inverdades, quiseram me ouvir, não quiseram me ouvir, gritaram aos meus ouvidos, falaram com serenidade, estenderam-me a mão, negaram-me a mão.
Conheci de tudo e, em todos os casos, Deus me deu a graça de entender que o outro era quem era. As pessoas não nos amam do jeito que gostamos, mas do jeito que elas sabem amar. As que sabem amar melhor do que nós nos enriquecem. As que amam menos do que nós, às vezes nos ferem, porque são quem são, e não adianta querer mudá-las por palavras firmes, fortes, violentas ou por decreto. Na maioria dos casos, quando fui ferido, fiquei quieto, deixei que os fatos tomassem a sua devida dimensão.
Não sou Deus, não quero brincar de Deus e levo muito a sério Mateus 7,1-2. Não posso julgar quem me julga, ferir quem me fere, puxar o tapete de quem puxa o meu, nem devolver com violência as agressões que recebo. Posso apenas avisar que vou reagir e que não me deixarei encurralar. Mas devo, como cristão, responder sempre com menor grau de violência do que com aquele grau de que sou vítima.

O meu lugar – Enfim, responder sim, mas não com a mesma violência, defender-me sim. Mas, se não for possível, oro e coloco a pessoa nas mãos de Deus. Já pus muitos que pretendiam me destruir nas mãos de Irmãs Carmelitas, e pedi que orassem por essas pessoas feridas, magoadas e com ódio. Em geral, deu tudo certo, porque o amor – e eu acredito firmemente nessa verdade – o amor liberta. Liberta a vítima e o algoz. Levo muito a sério a frase de Jesus: “Perdoai-os, eles não sabem o que fazem”. Espero que eu saiba.
Num balanço geral, diria que mais perdi do que venci. Em alguns momentos da minha jornada venci, em outros perdi. Feitos os cômputos, acho que sou um vencedor. Soube perder quando perdi, soube vencer quando venci. Continuo querendo não ser o primeiro, nem o maior, nem o melhor. Quero apenas o meu lugar. E, se alguém o quiser, eu o entrego de boa vontade, até porque este alguém não vai saber o que fazer co ele, já não é lugar dele. E eu também não saberia o que fazer com o lugar que não é meu.
Tenho orado a Deus para que me dê a graça de saber a minha dimensão e o meu lugar. Não há nada mais bonito nem mais feliz. Eu sou eu no meio de outros que também são eles mesmos.

José Fernandes de Oliveira, scj (Padre Zezinho) pertence à Congregação do Sagrado Coração de Jesus, é escritor, compositor, cantor e dedica-se à Pastoral da Comunicação.
Revista Família Cristã – Setembro de 2010

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