Imagine que sua vida seja tão interessante ou
mais interessante que a minha. Quero crer que seus relacionamentos sejam até
melhores do que os meus. Mas chego aos 68anos de idade e a mais de 45 anos
lidando diretamente com as pessoas, todo tipo de pessoa.
Num balanço geral desses relacionamentos,
conheci de tudo, aqui e no exterior. Deram-me chances e oportunidades, puxaram
meu tapete, cederam o seu lugar, tomaram o meu lugar, ajudaram-me, roubaram de
mim, elogiaram-me, defenderam-me, caluniaram-me, tentaram me destruir, tentaram
me salvar, permaneceram fiéis, traíram, prometeram e cumpriram, prometeram e
não cumpriram. Intencionalmente tentaram me ferir, tentaram me curar as
feridas, oraram por mim, oraram contra mim, contaram verdades, inventaram
inverdades, quiseram me ouvir, não quiseram me ouvir, gritaram aos meus
ouvidos, falaram com serenidade, estenderam-me a mão, negaram-me a mão.
Conheci de tudo e, em todos os casos, Deus me
deu a graça de entender que o outro era quem era. As pessoas não nos amam do jeito
que gostamos, mas do jeito que elas sabem amar. As que sabem amar melhor do que
nós nos enriquecem. As que amam menos do que nós, às vezes nos ferem, porque
são quem são, e não adianta querer mudá-las por palavras firmes, fortes,
violentas ou por decreto. Na maioria dos casos, quando fui ferido, fiquei
quieto, deixei que os fatos tomassem a sua devida dimensão.
Não sou Deus, não quero brincar de Deus e levo
muito a sério Mateus 7,1-2. Não posso julgar quem me julga, ferir quem me fere,
puxar o tapete de quem puxa o meu, nem devolver com violência as agressões que
recebo. Posso apenas avisar que vou reagir e que não me deixarei encurralar.
Mas devo, como cristão, responder sempre com menor grau de violência do que com
aquele grau de que sou vítima.
O meu lugar – Enfim, responder sim, mas não com a mesma
violência, defender-me sim. Mas, se não for possível, oro e coloco a pessoa nas
mãos de Deus. Já pus muitos que pretendiam me destruir nas mãos de Irmãs
Carmelitas, e pedi que orassem por essas pessoas feridas, magoadas e com ódio.
Em geral, deu tudo certo, porque o amor – e eu acredito firmemente nessa
verdade – o amor liberta. Liberta a vítima e o algoz. Levo muito a sério a
frase de Jesus: “Perdoai-os, eles não sabem o que fazem”. Espero que eu saiba.
Num balanço geral, diria que mais perdi do que
venci. Em alguns momentos da minha jornada venci, em outros perdi. Feitos os
cômputos, acho que sou um vencedor. Soube perder quando perdi, soube vencer
quando venci. Continuo querendo não ser o primeiro, nem o maior, nem o melhor.
Quero apenas o meu lugar. E, se alguém o quiser, eu o entrego de boa vontade,
até porque este alguém não vai saber o que fazer co ele, já não é lugar dele. E
eu também não saberia o que fazer com o lugar que não é meu.
Tenho orado a Deus para que me dê a graça de
saber a minha dimensão e o meu lugar. Não há nada mais bonito nem mais feliz.
Eu sou eu no meio de outros que também são eles mesmos.
Revista Família Cristã – Setembro de 2010
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